Poucos santos são tão festejados quanto São João Batista.

Sua comemoração litúrgica é no dia seguinte, mas a fama do Santo, sua grandeza profética e sobretudo o fato de ser o Precursor do Messias, levaram nosso povo a comemorá-lo já na véspera. E nessas comemorações não falta música.

Há realmente suma relação estreita entre São João Batista e a música.

Imagine-se no século XI, numa Abadia beneditina.

No início dos treinos musicais, os meninos ali educados costumavam cantar a seguinte oração a São João Batista:

“Purificai, bem-aventurado João, os nossos lábios para podermos cantar dignamente as maravilhas que o a Senhor fez em ti”.

Esta bela, oração cantada em latim, era evidentemente em versos. Assim:

Partitura do Frei Guido d’Arezzo
Oração cantada com as palavras que
deram nome as notas musicais

Utqueant laxix
Resonare fibris
Mira gestorum
Famuli tuorum
Solve polluti
Labii reatum

Mesma partitura em notação atual

Um monge, Guido d’Arezzo, mestre de música do mosteiro, percebeu que as primeiras sílabas cantadas formavam a escala musical perfeita. Eram completadas pela iniciais do hino que se lhe seguia: “SI” iniciais de Sacte Ioanne (São João).

Para facilitar o som a primeira nota (UT) foi substituída por Dó. Vem daí o nome das notas musicais: Do (Ut), Ré, Mi, Fá, Sol, La, Si.

Guido d’Arezzo escalonou as notas em linhas ascendentes e temos — com alguns acréscimos —a escala musical em uso até hoje.

Como a maioria das artes e ciências modernas, a música teve a sua consolidação definitiva num mosteiro. Os monges tinham bem em vista o dito do Evangelho: “Procurai em primeiro lugar o Reino de Deus e sua Justiça, e tudo mais vos será dado em acréscimo” (Mt 6, 33). Assim, procurando verdadeiramente a Deus, receberam o acréscimo: o mundo assistiu o início ou o desenvolvimento do “tudo mais”: a ciência, as artes etc.

A descoberta de Frei Guido fez logo um sucesso extraordinário: a música não ficou mais dependendo da memorização e, com isso, a aprendizagem era dez vezes mais rápida.

Coral dos Arautos do Evangelho
Como todos, usa a notação elaborada pelo Frei Guido d’Arezzo

Como muitas coisas nesta vida, a descoberta de Frei Guido suscitou invejas… E a calúnia chegou até os ouvidos do Papa.

Convocado a Roma, Guido para lá se dirigiu tranquilo, acompanhado pelo Abade do seu mosteiro.

Explicado e demostrado tudo ao Sumo Pontífice, este mnifestou uma grande alegria. Esta aumentou quando recebeu de Frei Guido, um Antifonário (livro com músicas litúrgicas) escritos na depurada e inovadora notação musical “guidoniana”.