Uma assídua frequentadora deste blog, ao comentar o post sobre a misericórdia do Sagrado Coração de Jesus (“Não tive tempo”) fez-nos uma interessante pergunta. Alude ao Evangelho do dia em que Jesus dá a parábola da ovelha perdida: “podiam me explicar porque uma [ovelha] vale mais que 99? Mesmo não entendendo tudo, eu já aceito pois Jesus disse que Ele mesmo era a Verdade; mas se pudesse explicar, fico agradecida”.

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A pergunta dá oportunidade de tratar de mais uma perfeição da Santa Igreja Católica, obra prima do amor de Jesus por nós e, ao mesmo tempo procurar responder à pergunta tão do agrado de quem busca conhecer e amar: “eu já aceito pois Jesus disse que Ele mesmo era a Verdade”.

Muito do que se diz do Divino Mestre, pode-se dizer do seu Corpo Místico: a Igreja Católica. Assim como Jesus crescia em graça e santidade, a Igreja também cresce. E crescerá até a consumação dos séculos.

A análise de um conceituado teólogo e canonista, graduado pela conhecida Faculdade “Angelicum”, de Roma nos esclarece.(*)

Quem de fato dirige a Igreja é o Espírito Santo. As falhas que possam haver nesse ou naquele elemento humano não altera em nada a perfeição imaculada da Igreja. Pelo contrário, Ela cresce em graça e santidade.

O aprimoramento da Liturgia, atualmente em vigor, é disso um belo exemplo.

Havia uma única liturgia para todos os anos. Com o aprimoramento, a Igreja passou a oferecer aos fiéis seis textos litúrgicos que só se repetem a cada seis anos. Percorre-se deste modo praticamente toda Sagrada Escritura, ao menos em seus pontos essenciais.

As leituras da Missa a que nossa cara leitora se refere são bem um exemplo disso. Até sugerimos que acompanhe este post com o texto litúrgico da comemoração a que se referiu. Encontrará facilmente no site www.cnbb.org.br/liturgia/‎.

Veremos a razão do cuidado de Jesus pela ovelha perdida. Para entender sem precisar recorrer a longos textos, imaginemos o seguinte: que Jesus, o Bom Pastor, ficasse indiferente ao fato de ter perdido uma ovelha. Afinal restavam 99!…

Mas, se as ovelhas pensassem — e no nosso caso, pensamos —, o que achariam deste descaso, aliás impossível à perfeição divina?

Seria simples: “se a próxima ovelha a se tresmalhar for eu?… Jesus também teria o mesmo descaso, pois lhe restariam ainda 98…” E todo o rebanho ficaria, pelo menos, inseguro.

Além desse fator há outro que os exegetas (especialistas em análise da Sagrada Escritura) dão: as 99 não perdidas estão seguras e o Bom Pastor as vigiará. Se sofressem algo, delas cuidaria, caso se perdessem, procuraria. É a primeira leitura da liturgia deste dia: “Vou procurar a ovelha perdida, reconduzir a extraviada, enfaixar a da perna quebrada, fortalecer a doente, e vigiar a ovelha gorda e forte”(Ez 34,16).

No Evangelho do mesmo dia, Jesus é muito claro: “haverá no céu mais alegria por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão” (Lc 15,7).

O que Jesus quer de nós é sermos dos “noventa e nove”. Se formos ovelhas desgarradas Ele nos procurará, “enfaixará a perna quebrada, fortalecerá a doente”. Formaremos assim um só rebanho, e teremos a Jesus como Pastor.

Esperamos ter respondido a nossa estimada leitora. Caso queira mais algum esclarecimento, pode voltar a perguntar. Responderemos com prazer.

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(*) Mons. João Clá Dias, O inédito sobre os Evangelhos, Libreria Editrice Vaticana, Roma, 2012, vol. VI, pp 344-347, vol. V, pp 438-447; e anotações pessoais do autor destas linhas em homilias na Basílica Nossa Senhora do Rosário, no Seminário dos Arautos do Evangelho, São Paulo.