É difícil encontrar quem não tenha admiração pelo Evangelho. Mesmo entre os não cristãos, poucos são os que não apreciam a beleza do estilo poético do texto e das expressivas imagens das parábolas, bem como a intensidade dos episódios que elas nos apresentam em toda a sua autenticidade.

Falta nesse quadro, entretanto, para muitas pessoas (e quiçá sejamos uma destas), um elemento de fundamental importância — na verdade, o principal: cada um de nós ver na doutrina tão belamente exposta o seu papel específico; ou seja, participar de modo ativo no episódio evangélico; acompanhá-la não só com a razão, mas também, e sobretudo, com o coração.

Não se trata, portanto, de ouvir ou ler como se o texto não tivesse uma relação direta e imediata conosco. Por mais que o mundo tenha mudado e estejamos distantes daqueles dias — cerca de dois mil anos —, os problemas relativos à Fé e à Moral continuam os mesmos, pois foram estabelecidos imutáveis pelo próprio Deus.

Assim, as parábolas e ensinamentos de Jesus continuam tão atuais na era do celular e das viagens aéreas internacionais como o foram no tempo do pergaminho e das viagens em dorso de camelo.

Tomemos por exemplo a parábola dos talentos.

Talentos, todos nós os recebemos. São dons sobrenaturais ou naturais que Deus, em sua bondade e sabedoria, decidiu conceder a cada um de nós, em número e intensidade maior ou menor, como narra a própria parábola.

Mais importantes entre todos são os dons sobrenaturais, com os quais são presenteadas as pessoas batizadas. Quantas graças, desde a nossa infância, nos convidando a sermos piedosos, a darmos o bom exemplo, a edificarmos os outros! Como cintilaram ante nossos olhos as luzes inefáveis do Natal, os esplendores da Liturgia, ou a beleza sobrenatural do dia de nossa Primeira Comunhão! Quantas vezes a alegria do pôr do sol, ou a majestade do movimento do mar, não banhou nossa alma de suavidades!

E os dons naturais, nos mais variados campos, completam a dádiva feita por Deus a cada ser humano. Ninguém deixou de receber seu quinhão de talentos. Desse modo, a parábola constitui para nós um caso pessoal.

Tais dons devem ser vistos, porém, no contexto do amor a Deus e ao próximo. Não nos são dados para desfrutarmos deles fechados em nós mesmos. Pelo contrário, devem render frutos de virtude, de amor e dedicação à Igreja Católica e de abnegação pelo próximo.

Leiamos, portanto, o Evangelho como discípulos de Jesus, abrindo de par em par as portas de nossa alma para aquilo que nosso Salvador queira nos ensinar.

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(Adaptado do editorial da revista “Arautos do Evangelho”, nº 119, de novembro de 2011, p. 5. Para acessar o exemplar do corrente mês clique aqui )

Ilustrações:Arautos do Evangelho, Rosário Abreu, Wiki