Sacrifício no Antigo Testamento

Percorrendo-se, mesmo de relance, a história dos povos antigos, percebe-se uma nota em comum: nos seus atos religiosos estava sempre presente o sacrifício, constituído em geral pela imolação de uma vítima.

Em vários casos, esse sacrifício chegava à imolação de seres humanos, o que era reprovado por Deus. Na maioria dos outros casos o sacrifício era a imolação de animais, frutos da terra, etc. Ou ainda penitências corporais, como o jejum e peregrinações.

O sacrifício — seja de vítimas, seja de algo que importe em sofrimento para o homem — repugna instintivamente a natureza humana, e dele se procura fugir.

Por que então ser tão generalizado o sacrifício?

A própria etimologia da palavra “sacrifício” mostra haver nela algo de sagrado (“sacrum”) que é oferecido ou feito (“facere”); normalmente relacionado com Deus. O objetivo era adorar, agradar, agradecer ou expiar as faltas.

Há uma necessidade na alma humana de dar a Deus algo do que é nosso, porque sabemos ter sido Ele quem nos fez conquistar este algo. Somos de Deus e o que fazemos lhe pertence por natureza.

Os moralistas — teólogos que estudam os direitos e deveres — consideram o sacrifício uma obrigação de direito natural, divino e eclesiástico.

O sacrifício de Abel

A Bíblia relata (Gn 4,3) que, tendo o homem saído do Paraíso Terrestre, oferece as primícias da terra: belas frutas e animais. “Primícias” são os primeiros frutos do trabalho ou da vida humana, e por isso destinados a serem oferecidos a Deus.

Vemos depois a Deus formando um corpo de elite destinado aos rituais sagrados: os sacerdotes. Verdadeiros ministros do Sacrifício, intermediários entre Deus e os homens para oferecerem as coisas humanas para Deus e as coisa divinas para os homens. Esse papel de intercessores foi estabelecido pelo próprio Deus (Ex 19).
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Conhecem-se quatro tipos de sacrifício:

Cordeiro sem mancha, para o sacrifício

• Latrêutico (de “latria”, adoração):

• Expiatório (pedido de perdão);

• Impetratório (pedido de graças);

• Eucarístico (ação de graças).

Cada qual possuía um ritual próprio. Por exemplo, no sacrifício expiatório pedia-se que o ofertante impusesse as mãos sobre a vítima, simbolizando a transferência do pecado cometido para o animal, afim de que morrendo este, morresse com ele a culpa.

Dentre as formas de sacrifício nenhuma se assemelhava em riqueza de cerimoniais às do Cordeiro Pascal.

Foi instituído pelo próprio Deus para relembrar o fim da escravidão ao faraó do Egito, cujo ato mais marcante foi a passagem do Mar Vermelho. Daí o seu nome: Páscoa (“passagem”).

Os judeus deveriam repeti-lo cada ano: sacrificavam um cordeiro macho, de um ano, sem defeito. Comiam às pressas, cantavam salmos e rememoravam as maravilhas operadas por Deus naquela noite em que o Anjo poupava as casas judaicas — tintas pelo sangue do cordeiro — e levavam a morte aos primogênitos egípcios.

Todas estas simbologias tinham um profundo sentido: eram prefiguras de um Sacrifício infinitamente maior e mais importante que estava por vir; um holocausto tão grande que aboliria todos os outros.
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O verdadeiro Cordeiro de Deus,
o que tira os pecados do mundo

Quando o simbolizado entrasse em cena, os símbolos cessavam.

Neste caso concreto, era o Jesus, o Filho de Deus que, como cordeiro sem mancha, assumia a culpa dos homens e se oferecia como vítima de expiação no altar da Cruz para salvar a humanidade.

Aí já seria o sacrifício da Nova e Eterna Aliança, que veremos em post seguinte.