Por Pe. Inácio de Araújo Almeida, EP
Muitos dos testemunhos de sua época ressaltam como o Angélico praticou eximiamente a virtude da amizade. Na Suma Teológica ele não hesitou em afirmar que um bom amigo “vale mais que a honra, e ser amado é melhor que ser honrado” (Summa Theologiae, II-II, q. 74, a. 2). Nesse sentido, é digno de nota lembrar o grande afeto que ele manifestava a Frei Reginaldo de Piperno, seu secretário particular.
Ao escrever o Compêndio de Teologia, num gesto de profunda amizade, São Tomás dedicou essa obra a seu devotado companheiro de trabalho: o “filho caríssimo Reginaldo” (Compendium Theologiae, I, cap. I).
Outro exemplo de amizade que perdurou ao longo de toda a vida foi aquela entre São Tomás e São Boaventura. Tinham praticamente a mesma idade e receberam juntos o título de Magister, na Universidade de Paris. Chesterton os caracterizava como “discordantes amigos” (Chesterton, G.K. Op. Cit., p. 109) , pois, embora lutassem a favor da mesma Verdade, muitas vezes apresentaram pontos de vista diferentes, sem, contudo, esquecerem as regras da caridade.
Deus os quis juntos tanto na terra como no Céu, pois ambos partiram para a eternidade no ano de 1274. Dante, em sua obra A divina comédia, ao descrever o Paraíso, apresenta São Tomás louvando as glórias de São Francisco, e São Boaventura, por sua vez, num gesto de santa retribuição, exaltando as virtudes de São Domingos.
Um fato que atesta a mútua estima entre esses dois santos deu-se quando o Angélico foi ao convento dos franciscanos, a fim de fazer uma visita a seu amigo São Boaventura. Como de costume, São Tomás entrou diretamente na cela do frade e o encontrou sentado, absorto na tarefa de escrever uma biografia de seu fundador, São Francisco de Assis.
São Tomás contemplou por algum tempo a edificante cena e, numa manifestação de profunda delicadeza, retirou-se silenciosamente a fim de não interrompê-lo. Um dos frades quis alertar São Boaventura sobre a presença de seu amigo Tomás, mas este não permitiu. E, enquanto se retirava, o Angélico comentou: “Deixemos que um santo escreva a vida de outro santo…” (Spiazzi, Raimondo. San Tommaso D’Aquino. Biografia Documentata di un uomo buono, inteligente, veramente grande. Bologna: ESD, 1995, p. 96).
Um grande tesouro , um dos mais valiosos que devemos ter …