vitral-roxbury-eua-ae-gustavo-krajl

Mons. João Clá, Fundador e Superior Geral dos Arautos do Evangelho, no texto a seguir — composto de excertos de artigo seu (1) —, esclarece algo de extremamente necessário, e, ao mesmo tempo de que é tão carente, nossos dias: INOCÊNCIA.

Certa mentalidade falseada procura associar a inocência ao fato de se ser bobo. Ora, é exatamente o contrário.

Mons. João Clá comenta as palavras de Jesus: “deixai vir a Mim as criancinhas”. (Mc 10, 14)

A INOCÊNCIA, SUSTENTÁCULO DE QUALQUER ESTADO DE VIDA

mons-ae 

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

Certamente eram as mães que, movidas pelo instinto materno, levavam seus filhinhos até Jesus, em busca do melhor para eles. Nosso Senhor era capaz de obter qualquer benefício, por mais extraordinário que fosse, e talvez tivessem percebido que quando acariciava a cabeça de alguma criança, ela se tornava mais inteligente. Conduziam, pois, os pequeninos para perto do Salvador, a fim de que, impondo-lhes as mãos, lhes concedesse saúde, força, sabedoria e, sobretudo, graças.

Mães levam seus filhinhos a Jesus

Mães levam seus filhinhos a Jesus

Ora, com sua vivacidade infantil, faziam alvoroço em volta d’Ele… Por este motivo, alguns comentaristas sugerem que os Apóstolos estavam preocupados em pôr ordem na multidão e, para evitar que as crianças atrapalhassem o Mestre, repreendiam-nas.

A realidade, porém, é mais profunda. Não só as mulheres, mas também as crianças eram tratadas com desprezo na Antiguidade, situação que só mudaria pelos efeitos do preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Uma concepção autossuficiente da vida espiritual

De acordo com a mentalidade israelita, a prática da Religião competia exclusivamente aos homens e partia de uma iniciativa própria. Mais tarde, Jesus retificaria este conceito, ensinando: “Não fostes vós que Me escolhestes, mas Eu vos escolhi” (Jo 15, 16). Tanto os fariseus quanto os discípulos reputavam as crianças elementos alheios à Religião.

Para entrar no Reino, precisamos ser dependentes de Deus

Vendo esse erro o Divino Redentor ficou entristecido. Ao afirmar que o Céu pertence àqueles que são como as crianças, ensina que a iniciativa é tomada por Deus, pois é Ele quem distribui as graças, designa a cada um sua vocação e santifica. Cabe-nos aceitar seu chamado como crianças em relação a Deus, e como adultos no governo das criaturas.

Quem é pequenino não se julga um colosso nem autossuficiente, mas dependente; é o que Nosso Senhor elogia e aponta como modelo a ser imitado

A fórmula para conquistar o Céu

jesus-e-pequenino-rae-lisieux-edit

Compenetremo-nos disto: somos criaturas contingentes, necessitamos do auxílio de Deus! É preciso ser “como uma criança” para reconhecer a vontade d’Ele e cumpri-la, com a alma aberta a tudo o que vem do alto, à maneira do filho dócil aos ensinamentos dos pais.

Ser como criança significa também ser inocente, isto é, ter a alma semelhante a um cristal que nunca foi riscado: límpida, transparente e cheia de luz, jamais manchada por qualquer falta. O Reino de Deus é constituído por aqueles que se empenham em conservar a própria inocência e a dos demais.

Quando rezamos no Pai-Nosso “venha a nós o vosso Reino”, devemos arder do desejo de que na Terra e em nosso interior se estabeleça a supremacia da inocência! Se abraçarmos este ideal, seremos abraçados por Nosso Senhor, porque Ele abençoa os que se fazem pequenos.

Quem perdeu a inocência, não pense estar numa situação irremediável. Jesus é a causa de toda a inocência, a fonte de nossa vida espiritual! Peçamos o indispensável amparo da graça para conservarmos intacta a inocência, ou para reconquistá-la, e sejamos arautos da inocência.

(1) JOÃO SOGNAMIGLIO CLÁ DIAS, EP, “O inédito sobre os Evangelhos”, Libreria Editrice Vaticana, Vol. IV, p. 400-417. Publicado também na revista “Arautos do Evangelho”, nº 166, outubro de 2015, p. 8-17. Para acessar a revista Arautos do Evangelho do corrente mês clique aqui )

Ilustrações: Arautos do Evangelho, Gustavo Krajl, Photogamm