“Ó sol sem o qual as coisas não seriam senão o que elas são”, assim exclama Edmond Rostand, escritor francês.
Realmente se o sol se “apagasse”, que restaria na terra senão trevas e as coisas parecendo não existir? Essa constatação natural pode ser aplicada à alma humana. Vejamos (*)
Adriana Maria Sanchez Garcia
Após uma forte chuva, ou mesmo depois do leve orvalho da madrugada, podemos contemplar gotas d’água refletindo a luz do Sol. Semelhantes a pequenas joias, tomam elas uma beleza própria que não tinham enquanto não refletiam tal luz.
Mas o que é o Sol comparado a uma gota d’água? Ele é uma estrela de especial grandeza, que aquece e ilumina a Terra, permitindo a vida em nosso planeta. E uma gota d’água… que poderia haver de mais insignificante? Ela cai e logo se esvai, sem que se lhe dê maior importância. Em relação ao oceano é nada!
No entanto, pela ação dos raios solares, aquela pequenina gota passa a ser um espelho do Sol, a participar, de certo modo, da rutilante beleza do Astro Rei.
De maneira análoga, cada um de nós é como uma gota d’água. O homem, por si mesmo, é tão pequeno dentro do universo… Contudo, está chamado a fazer resplandecer nele algo infinitamente superior: o próprio Deus!
Sendo um reflexo da luz divina, enquanto criatura feita à sua imagem e semelhança, adquire um brilho superior quando as águas batismais se derramam sobre sua cabeça: é o fulgor do estado de graça. E o que há de mais belo do que uma alma em graça?
Deus ilumina tudo o que vemos, sejam as maravilhas da natureza ou as virtudes das almas santas. Todas as belezas desta Terra são como espelhos, nos quais podemos admirá-Lo e crescer no anelo de vê-Lo no Céu. O vasto e tempestuoso mar, por exemplo, representa a grandeza divina; a garça branca, sua pureza; o amor de uma mãe, sua bondade.
Ensina-nos São Paulo: “Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face” (I Cor 13, 12). Não obstante, como poderemos chegar a ser um perfeito espelho do Sol de Justiça, límpido e sem nenhuma mancha, para refletir sua imagem?
O amor, diz São João da Cruz, (1) torna o amante semelhante ao amado. É, pois, amando muito a Deus que nos tornaremos semelhantes a Ele. Amando a Deus mais do que a nós mesmos — o que só é possível com o auxílio da graça —, desejaremos viver conforme a sua Lei e seremos a “luz do mundo” (Mt 5, 14) preconizada por Nosso Senhor Jesus Cristo no Evangelho.
Assim, poderemos realizar em nós as palavras do Apóstolo: “Refletimos como num espelho a glória do Senhor e nos vemos transformados nesta mesma imagem, sempre mais resplandecentes, pela ação do Espírito do Senhor” (II Cor 3, 18).
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(*) Publicado na revista “Arautos do Evangelho”, nº 155, de novembro de 2014, p. 50-51. Para acessar o exemplar do corrente mês clique aqui )
(1)Cf. SÃO JOÃO DA CRUZ. Subida del Monte Carmelo. L.I, c.4, n.3. In: Vida y Obras. 5.ed. Madrid: BAC, 1964, p.371.
Ilustrações: Arautos do Evangelho, Gustavo Krajl
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