É comum encontrarmos na natureza belezas opostas, porém harmônicas. É o encanto de um minúsculo beija-flor ou mesmo de uma joaninha que bem podem estar próximos a um imenso pinheiro ou a uma catarata como a de Iguaçu, ou tendo à noite um céu estrelado em que, de um pontinho brilhante a outro podem distar milhões de anos-luz.

Esse aspecto da natureza material não é senão o reflexo do espiritual e do próprio Deus. O mesmo ocorre com Nosso Senhor Jesus Cristo. Ora a Escritura O apresenta debruçando-se com amor sobre um pobre cego, ora altivo e encolerizado expulsando os vendilhões do Templo.

O Mons. João Clá Dias, fundador e Superior Geral dos Arautos do Evangelho, aborda outros aspectos deste tema e os esclarece no artigo reproduzido a seguir. (*)

A ALEGRIA DOS HUMILDES

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

Jesus é, de fato, de um Rei, vindo para estabelecer um império autêntico, mas impalpável, porque é, sobretudo, interior: o reino da graça, da participação na vida divina, o qual se difunde por meio da Igreja visível, fundada por Ele, e nos prepara para a glória perene no Reino sempiterno.

Contrariamente aos soberanos da Antiguidade, detentores de imensos poderes e riquezas, este Monarca aparece pobre e entra em Jerusalém montado num jumentinho, aclamado pela multidão.

Igreja Notre Dama – Montreal

Ele, que merece infinitos louvores, entretanto condescende com essa diminuta demonstração de simpatia, porque — dada a concepção orgulhosa de um Messias temporal, que resolveria todos os problemas políticos e financeiros da nação — se Ele aceitasse homenagens cheias de grandeza e pompa lhes faria mal, confirmando-os naquela deformada crença.

Não era chegada a hora de Se revestir de força e esplendor, como será em sua segunda vinda quando descer do Céu para julgar os vivos e os mortos, e sim o momento de fazer um convite à mudança de vida, através do exemplo de desprendimento das coisas materiais.

A Deus pertencem todas as riquezas

Não pensemos, contudo, segundo certa mentalidade errônea, que nossas manifestações com respeito a Deus e ao seu culto devam ser marcadas pela nota da pobreza e da humilhação, que as igrejas tenham que ser despojadas de qualquer adorno, compostas de taipa, semelhantes a uma cabana, e os tabernáculos para o Santíssimo Sacramento feitos de argila, mais míseros que uma casinha de joão-de-barro.

Ao contrário, nós temos a obrigação de dar a Deus aquilo que Lhe pertence, conforme o mandato de Nosso Senhor: “a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 21). O que cabe, então, a Deus? O que Lhe precisamos restituir? Todo o ouro da Terra, todas as riquezas, pois Ele disse: “A prata e o ouro Me pertencem” (Ag 2, 8).

Basílica de São Francisco de Assis – Itália

A igreja é a casa de Deus e, portanto, ela é de todos, tanto do rico quanto do pobre, tanto do asiático quanto do ocidental, tanto para os de uma raça quanto para os de outra. Ela é também o luxo do pobre, erguida para dar alegria àqueles que não se apegam aos bens deste mundo, aos autênticos pobres, isto é, os de espírito (cf. Mt 5, 3).

Por tais motivos a Liturgia tem de ser majestosa e as igrejas ricas como o é o Céu Empíreo que Deus preparou para nós, para o qual não há termos de comparação nem linguagem humana capaz de exprimir o que nele existe.

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(*)O presente texto é apenas um trecho do artigo com o mesmo título de autoria do Mons. João Clá, publicada na revista “Arautos do Evangelho”, n° 151, deste mês (julho de 2014), p. 8-17. A revista pode ser lida on line: Clique aqui