Erguidas há muitos séculos, elas nunca envelhecem, e continuam a exercer sua suave atração sobre todas as gerações. São uma amostra do alto grau de beleza que uma civilização pode alcançar quando é inspirada pela fé católica.

Quem as construiu? Grandes potentados? Reis?

Para bem responder essa questão é mais concludente ver como as catedrais foram construídas.

Catedral de Salisbury – Inglaterra

É necessário ter presente que a época em que foram construídas — a Idade Média — caracterizou-se pela influência da Igreja em todo o corpo social, pela docilidade dos medievais à graça e a consequente busca da virtude e da beleza como reflexos de Deus.

Somente tendo em conta o fator religioso se pode compreender a construção das catedrais medievais, cada uma das quais, como veremos, não foi obra de um governante, um bispo ou uma empresa construtora.

Não! Foi obra de todo o corpo social, com características nunca vistas depois. Sobre essa época assim se exprime o Papa Leão XIII:

Catedral de Amiens – França

“Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil. Então a Religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda parte era florescente, graças ao favor dos Príncipes e à proteção legítima dos Magistrados. Então o Sacerdócio e o Império estavam ligados entre si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios. Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda a expectativa, cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer” (1).

Esses homens construíam pensando em Deus

Sem dúvida, foi o clero a força propulsora dessas imensas obras. Os
monges, sobretudo, estavam à testa desse movimento que levou a civilização a um auge até então nunca visto.

Catedral de Chartres – França

A arte, a cultura, a arquitetura, a engenharia, a medicina, a agricultura e até… a culinária encontraram nos mosteiros medievais um grande impulso rumo ao esplendor.

O medieval construía pensando em Deus, cogitando na eternidade, e por isso sua arte era de uma beleza sem igual. Os construtores não tinham em vista o prestígio que seu trabalho lhes daria nem a quantidade de dinheiro que ganhariam com suas obras. Razão pela qual não se conhece quem as construiu, exceto raras exceções.

O que levou à construção dessas enormes e maravilhosas catedrais foi a convicção de que para Deus, para o culto divino, deve-se dar o que há de mais belo, mais esplendoroso. Não é de se admirar, pois, que cada detalhe da catedral fosse uma obra de arte.

Os bispos da época, como autênticos pastores do povo de Deus, souberam interpretar essa aspiração à beleza e à perfeição que se manifestava de um modo sempre crescente. Era, pois, natural que quisessem embelezar e ampliar quanto possível a Casa do Senhor.

Beleza que até hoje atrai multidões

Catedral de Colônia – Alemanha
Durante séculos foi o edifício mais alto do mundo

Por seus majestosos portais passam a cada ano multidões de visitantes que, ávidos de beleza, se encantam com essa maravilha de pedra. Somente a catedral de Notre Dame, em Paris, recebe anualmente mais de cinco milhões de visitantes.

Mas não é só a famosa catedral parisiense que exerce esse misterioso poder de atração. Quem percorre a Europa vê o mesmo em Sevilha (Espanha), Colônia (Alemanha), Chartres (França), Milão (Itália), Canterbury (Inglaterra). Isso para citar apenas uma de cada um desses países, nos quais há #milhares de igrejas ou catedrais góticas.

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Trabalho voluntário, movido pela fé e pelo fervor

Em Paris, em Ávila, em Colônia, em York ou qualquer outra cidade, todo o povo participava desses prodigiosos empreendimentos. Muitíssimos trabalhavam na obra com suas próprias mãos, outros ofereciam recursos financeiros, outros ainda davam o valioso contributo das orações.

Havia, é claro, a necessidade de mão de obra profissional. Mas em grande parte os serviços eram executados por trabalhadores voluntários, movidos pela fé e pelo fervor. Numa perfeita concórdia uniam esforços os nobres, os magistrados, os comerciantes, os artesãos e o povo simples da cidade e dos campos circunvizinhos.

Ação formativa das catedrais

Aquelas benditas pedras e vitrais “falavam” no fundo da alma dos fiéis que as frequentavam, numa linguagem muda, recordando-lhe as verdades eternas, transmitindo-lhe a apetência da beleza, das coisas celestes e o desejo de agradar a Deus.

É para isso mesmo que elas foram construídas.

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(1) LEÃO XIII, Encíclica “Immortale Dei”, de 1º-XI-1885, Bonne Presse, Paris, vol. II, p. 39.

(Condensação e adaptação do artigo “A catedral medieval, obra de todo o povo cristão”, do Pe. Juan Carlos Casté, EP, na revista “Arautos do Evangelho”, nº 52, abril de 2006, p. 38-41.)

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Creditos ilustrações: Arautos do Evangelho, Juan Pablo Cadavid, wiki, wordpress