Pe. Hernán Luis Cosp Bareiro, EP

Altivos, desafiantes, robustos e hieráticos, ainda quando envoltos nas mais encapeladas tempestades, os faróis como o da fotografia acima enfrentam as mais virulentas vagas, como quem diz: “Não me perturba a tua violência, não temo o teu furor”.

Mesmo se as águas os submergem quase por completo, eles permanecem impávidos e continuam a iluminar o céu, como se indiferentes estivessem ao que se passa em torno deles. Destinados a uma missão eminentemente prática, com formas e cores funcionais, num primeiro lance de vista não passam de construções rústicas e até desairosas. Eles atraem, porém, por sua força indomável e pela ousadia de sua localização. Mas afastemo-nos por um momento destas ufanas torres sofrendo as investidas ferozes dos elementos e elevemos o espírito a considerações mais transcendentes.

Sonho de São João Bosco
A Nau da Igreja na tempestade

Nos seus mais de dois mil anos de História, a Santa Igreja Católica Apostólica Romana se nos apresenta frequentemente em situação análoga a estes faróis, pois, quantas vezes a crueldade do mal não investiu contra o Corpo Místico de Cristo, à semelhança destas ondas?

Quantas vezes o ímpeto das trevas, desencadeando sua ira sobre ela, não ameaçava submergi-la por completo nas suas agitadas águas? Entretanto, passada a borrasca via-se sempre que a sanha do mar e do vento nada conseguira fazer.

Multitudinários martírios, injustos exílios, ambiciosos confiscos de bens, invejosas calúnias, infundadas acusações, cínicos desprezos… a lista é vasta! Contudo, não há perseguição da qual a Igreja não tenha saído mais formosa, mais forte e mais inabalável do que antes.

É bem uma confirmação da promessa de seu Divino Fundador ao primeiro de seus Apóstolos: “et portæ inferi non prævalebunt adversum eam — e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18). Por cima de todos os males que se abateram sobre a Esposa de Cristo, sua lâmpada não só nunca deixou de brilhar, senão que jamais diminuiu de intensidade sequer por um segundo.

Não importa a magnitude da borrasca nem a fúria das investidas, ela sempre se manterá de pé, firme e incorruptível, “sem mácula, sem ruga” (Ef 5, 27), e a luz de sua doutrina e de sua moral iluminarão todos os navegantes de nosso conturbado século XXI.

Em todos os tempos ela poderá repetir com sobrenatural altivez aquela famosa frase de um poeta da antiga Roma: “Alios ego vidi ventos, alias prospexi animo procellas — Eu já vi outros ventos, já afrontei com o mesmo ânimo outras procelas”(1).

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(1) CÍCERO, Marco Túlio. In L. Calpurnium Pisonem Oratio, n.IX.

(Transcrito da revista “Arautos do Evangelho”, nº 147, de março de 2014)