De vez em quando, ao por em ordem papéis, folhear livros, arrumar gavetas, a gente encontra coisas interessantes. Coisas que nos interessaram quando as guardamos, mas que as ocupações jogaram por cima um manto de esquecimento.

Em meio às folhas de um livro, encontrei um papel já amarelado, mas que agora faz mais sentido do que quando foi guardado.

Eis em resumo o que lá estava:

Antes de dar o conteúdo, pelo contexto, o papel deve datar de época logo posterior a adoção do Real como moeda no Brasil. Época em que se comprava quase 2 dólares por um Real. É apenas um dado para se entender o fato narrado.

* * *

O Sr. Luís chegou — como sempre — apressado e foi direto para o computador, onde permanecia horas fazendo… ou melhor, não fazendo nada… Ou naufragando — nome dado pela esposa ao termo “navegando”… — na internet. Isso até cair de sono.

Certo dia, chega o filho Ricardo, de 8 anos:

— Pai…

— Não atrapalhe! Estou ocupado!

— É só uma pergunta, pai.

— Diga lá…

— Quanto o senhor ganha?

— Ora… isso nem sua mãe sabe…

— Mais ou menos, pai. Quanto o senhor ganha em meia hora no trabalho?

Luís fez um rápido cálculo… na calculadora do computador.

— Três Reais. Agora vá embora pois estou ocupado!

— Obrigado, pai.

Alguns dias depois Ricardo reaparece:

— Pai… o senhor me dá um Real?

— Lá vem você.. Toda hora pedindo dinheiro!

— Pai, a última vez que o senhor me deu dinheiro foi no meu aniversário do ano passado. Esse ano o senhor esqueceu…

— Está bem… Aqui está um Real!

Ricardo enfiou a mão no bolso, tirou 2 Reais e juntou ao que o pai lhe dera.

— Pai, agora o senhor conversa meia hora comigo?

* * *

Embora seja um fato imaginário, nestes últimos anos tenho presenciado fatos semelhantes e até mais dolorosos.

Por que os pais não conversam mais com os filhos e esses têm que passar o tempo no mundo irreal da rede? Ou do vídeo game? Ou do celular?

.

Ao comentar esse fato com um amigo, este observou:

— E os pais. Teriam o que conversar com os filhos?

Que futuro se prepara assim para essas crianças? E portanto para o brasil e para o mundo?

Fica aqui a pergunta…