A “Virgen Blanca” de Toledo – Espanha

Doze anos antes do nascimento de Jesus, um casal venerável aproxima-se do Templo de Jerusalém. Entre os dois segue uma menina de rosto resplandescente, cabelos claros, quase louros, e os olhos de um azul profundo, belo “como as noites do Oriente” ⁽¹⁾.

Apesar de seus três anos de idade, a criança caminha com passo firme, resoluto, embora por afeto dê a mão a sua mãe.

No Templo, dirigem-se à parte inferior de uma escadaria que dá acesso à ala reservada às jovens e senhoras que vivem como religiosas.

Entrada de Nossa Senhora ao Templo

Antes de subir, a linda menina despede-se afetuosamente dos pais e, sem ajuda, galga resolutamente a escada.

A menina chama-se Maria, (Mírian, em língua oriental). É descendente de do Rei Davi tanto pelo lado paterno como materno. Não fosse a usurpação do reino feita por Roma, ela seria uma princesa.

Muito mais que isso, na Escritura há a promessa de que, de uma descendente do rei Davi, nasceria o Messias (Is 11, 1), Cristo, o Filho de Deus, Redentor do gênero humano.

A Menina conhecia tudo isso. Nas suas meditações, orações, e mesmo durante os trabalhos, suas cogitações iam para algo de muito mais alto: considerar as infinitas perfeições de Deus.

Passaram-se os anos, a menina cresceu. Mas cresceu sobretudo na consideração e no amor a Deus, seu Criador, jamais considerando-se a si mesma para nada.

Certo dia, lia e meditava as profecias referentes ao Messias e deparou-se com a afirmação de que este nasceria de uma descendente do Rei Davi. Considerando a infinita perfeição de Deus e de outro lado a sua pequenez ⁽²⁾, fez voto de virgindade, renunciando deste modo a ser antepassada do Messias.

Foi Maria a única descendente de Davi a fazer tal voto; todas as demais procuravam legitimamente o matrimônio afim de ter a glória de ser antepassada do Messias.

Maria julgava-se indigna de tal honraria. Tal era sua humildade.

Deus, porém, tinha outros desígnios… Por obediência, contraíra núpcias com José, também ele descendente de Davi. Antes, porém de viverem juntos, estando Ela em oração aprece-lhe o Anjo:

— Ave, cheia de Graça…

Era Ela a escolhida para ser Mãe do Messias.

Qual deve ter sido seu sorriso ao ver o bendito fruto de seu ventre, na manjedoura, em Belém? Conviveria com o próprio Deus feito Homem durante trinta anos. Deveria amamentá-lo, fazê-Lo dar os primeiros passos e… acompanhar seu últimos com a Cruz às costas.

Aos pés da Cruz a receberíamos por Mãe na pessoa de São João: “Eis aí o teu filho”.

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⁽¹⁾ Manuscrito contemporâneo (texto não canônico) citado por Padres da Igreja dos primeiros séculos. Ver também Testemunho de São Dionísio Areopagita, que conheceu pessoalmente a Nossa Senhora (São Luís Grignion cita no Tratado, capítulo I, artigo II, nº 49).

⁽²⁾ “Comparada à Majestade infinita [de Deus] Ela [Maria] é menos que um átomo, é, antes, um nada, pois só Ele é ‘Aquele que é’”. Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, de São Luís Grignion de Montfort, Ed. Vozes, Petrópolis, 42ª edição, 2012, p.27.