“Para o amor nada é impossível” costumava dizer Santa Terezinha. Bem entendido, ela concebia este amor acompanhado das outras duas virtudes irmãs: a Fé e a Esperança. Sem estas, o amor só se dá a meias, ou não existe de todo.
Em sentido contrário, o oposto do amor — o ódio — não necessita destas duas virtudes. Tratando-se de uma paixão má, o ódio tem em si um dinamismo que o faz perspicaz e diligente. Em outras palavras, percebe e intui o que é preciso para executar suas pérfidas intenções.
Para não termos ilusões a esse respeito, vejamos um exemplo concreto e de fácil comprovação ocorrido após a morte de Jesus. (*)
A atitude dos Apóstolos e as do Sinédrio a propósito da Ressurreição de Jesus, são altamente esclarecedoras.
Os Apóstolos tinham ouvido várias vezes dos próprios lábios do Mestre que Ele ressuscitaria. Com a mente e o coração turbados pela miragem de um reino material, no qual —imaginavam — seriam ministros, não acreditavam nas palavras de Jesus quando afirmava sua Ressurreição. Nessa hora, seu amor por Jesus era fraco, vacilante.
Pelo contrário, o ódio, que já havia morto Jesus, levava o Sinédrio à certeza de que Jesus ressuscitaria. Nas inúmeras profecias isso era afirmado. Como se não bastasse, ouviram o próprio Jesus afirmar que ressuscitaria. Não tinham Fé, mas sim a constatação fria de que todas as afirmações de Jesus se cumpriam uma após outra. Esse ódio e essas constatações levaram-nos à certeza de que Jesus ressuscitaria, como prometera.Essa certeza os levou a agir com perspicácia e diligência para tentar abafar a inevitável Ressurreição. Para não comunicar a Pilatos a certeza que tinham, alegaram que “os discípulos poderiam roubar o cadáver” e propagar a notícia que o Mestre tinha ressuscitado, e isso “seria pior do que antes”. Pediam, pois, a Pilatos designar uma guarda “para impedir que os discípulos assim agissem”.
Tomando esta providência, mal sabiam os fariseus e comparsas que estavam providenciando testemunhas insuspeitas para a Ressurreição.
Ao ouvirem na madrugada a narração dos soldados de que Jesus ressuscitara, não duvidaram um instante: imediatamente os subornaram. Em troca de grandes quantias, os soldados deviam espalhar a falsa notícia de que os discípulos roubaram o corpo de Jesus… enquanto eles dormiam. E, caso esse “fato” chegasse aos ouvidos de Pilatos, eles — fariseus — “se encarregariam de convencê-lo”, de modo a não puní-los por tamanha negligência.
Quem ouvia a alegação dos soldados não podia deixar de se perguntar: se dormiam, como poderiam saber que foram os discípulos de Jesus que roubaram o Corpo? E se estivessem acordados, por que não impediram o roubo, conforme lhes fora ordenado?
Os Apóstolos
Mesmo com a notícia trazida pelas Santas Mulheres, os Apóstolos não acreditaram. Pedro e João
foram comprovar a veracidade do fato e, a julgar pelas palavras do Evangelho, só após Jesus ir ao Cenáculo saudá-los acreditaram… em parte. Para certificarem-se de que não era um fantasma e sim o próprio Jesus em carne e osso, pediu o Mestre para comer algo, e o fez na presença deles.
Duas atitudes: a do amor tíbio, vacilante leva a não crer; a do ódio total não se permite dúvida, excogita imediatamente as medidas a tomar e as executa sem tardança.
Certa vez ouvi do Mons. João Clá, fundador dos Arautos do Evangelho, que Nosso Senhor ao dizer “os filhos das trevas são mais sagazes do que os filhos da luz”, não era uma constatação e sim uma lamentação. E concluía: devemos querer, na defesa do bem, ser mais sagazes que o mais sagaz dos filhos das trevas no combate ao bem. Do contrário — no máximo — seremos filhos das sombras.
(*) Basemo-nos na magnífica obra “Jesus Cristo – Vida, Paixão e Triunfo”, Pe. A. Berthe, Ed. Civilização, Porto, 2000.
Fenomenal, especialmente o último e mais esclarecedor dos parágrafos. Desejemos isso incessantemente, façamos o bem, demos tudo, até a última gota!!! Salve Maria!!