Nosso Senhor Ressuscitado
Vitral da Catedral de Hamilton
Canadá

Às vezes, Deus em sua onipotência, usa de instrumentos inesperados. Por vezes usa instrumentos fracos para demonstrar sua força, outras vezes serve-se até de forças contrárias para realizar seus desígnios. Foi o que aconteceu na Páscoa. Antes de tudo, venceu a morte, ressuscitando-se a Si mesmo. Mas quis ter como testemunhas de sua vitória aqueles mesmos que promoveram e executaram essa morte.

De fato as medidas tomadas pelo Sinédrio para que “os discípulos não roubassem o Corpo de Jesus” do Sepulcro só serviram para confirmar que Jesus de fato ressuscitara.

O Sinédrio pedira a Pilatos para colocar uma guarda romana a vigiar o Sepulcro. Essa mesma guarda seria testemunha da Ressurreição… e da malícia do Sinédrio. Como narram os Evangelhos, essa guarda presenciou a Ressurreição de Jesus. Assustados — eram pagãos — foram dar conta do ocorrido. Os sinedritas e fariseus subornaram-nos então para “que dissessem estar dormindo enquanto os discípulos de Jesus roubaram o Corpo de Jesus”.

Afresco da Ressurreição
Basílica Nossa Senhora do Rosário
dos Arautos do Evangelho

O povo simples, mas de fé robusta, costuma dizer que “o demônio muitas vezes pisa no próprio rabo”. Foi o que aconteceu. Tornou-se motivo de riso entre o povo de Jerusalém a mentirosa alegação dos guardas, pois como podiam eles saber que eram discípulos de Jesus, se “estavam dormindo”?… E, com um pouquinho mais de pensamento, ocorre a muitos: a quem aproveita esta mentira? A resposta era óbvia: aos sinedritas. Só eles quereriam sepultar sob o manto da mentira Aquele a quem mataram. Já objeto de fundadas reprimendas por terem violado todas as leis e praxes na condenação de Jesus, tornavam-se assim motivo de riso por todos os séculos.

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Mas, deixemos de lado os sinedritas e voltemos o olhar para os Apóstolos, as santas mulheres, especialmente a Santíssima Virgem. E sobretudo Jesus que, nas palavras da Liturgia de hoje, “morrendo, destruiu a morte, e, ressurgindo, deu-nos a vida”.

Reunidos no Cenáculo estavam Maria Santíssima, os Apóstolos e as santas mulheres. Apesar de Jesus ter afirmado várias vezes que ressuscitaria “ao terceiro dia”, apenas a Virgem Maria cria. Por isso afirmam os teólogos que, entre a Morte e a Ressurreição, a Igreja inteira estava contida em Maria. O túmulo guardava o Corpo de Jesus; o Imaculado Coração de Maria guardava a Igreja.

Maria Madalena encontra Jesus Ressuscitado

Quis Deus que outra mulher fosse a primeira testemunha da Ressurreição de Jesus. Era Maria Madalena; aquela que “porque muito amou, muito lhe foi perdoado”. Poderíamos agora dizer: porque muito amou, muito lhe foi dado. Foi-lhe dado ser a segunda a ver Jesus Ressuscitado. A segunda? E quem foi o primeiro, ou primeira? Há um princípio teológico universalmente aceito na Igreja, de que, aquilo de graça que outros receberam e que convenha à Maria Santíssima, ela o recebeu no mais alto grau. No caso, foi ela a primeira a ver o Divino Filho ressuscitado.

Avisados por Maria Madalena, Pedro e João correram para o Sepulcro. Nesta cena descrita pelos Evangelhos aparece registrado o primeiro ato de respeito pela primazia de São Pedro. São João chegou primeiro ao Sepulcro, pois era jovem; ali, porém, não entrou. Esperou por São Pedro a quem o Mestre havia constituído “a rocha sobre a qual edificou a sua Igreja”. Cabia ao primeiro Papa constatar o maior dos mistérios da Fé.

São Pedro e São João encontram
o sepulcro vazio

Seguiu-se as aparições em corpo e alma de Jesus aos Apóstolos, seus últimos ensinamentos, a promessa da vinda do Espírito Santo em Pentecostes e a gloriosa Ascensão de Jesus aos Céus. A Igreja, então tenra plantinha, cresceria e nos nossos dias estende os ramos por todo o mundo.