Por Marcela María Gómez García

Contemplando a grandeza do mar durante uma tempestade, cativa-nos o majestoso e implacável poder das ondas que levam de roldão tudo quanto encontram pela frente. Contudo, não deixa de suscitar admiração também a superfície tranquila de um lago, ondulando suave e harmoniosamente ao sabor do vento.

Imaginemos um lago de montanha, rodeado de altaneiros picos com afiladas pontas que parecem desafiar o céu. Uma paisagem assim convida-nos a apreciar o sereno e uniforme movimento das águas, em contraste com a combativa nobreza das montanhas cujos cumes apontam para altos horizontes. Todos esses elementos formam um conjunto harmônico, no qual duas virtudes que se afiguram inimigas irreconciliáveis – a calma e a combatividade – convivem em perfeito equilíbrio, levando quem contempla o panorama a sentir paz de alma.


Essa tranquilidade de espírito não é, como muitos creem, sinônimo de lentidão e passividade. É, pelo contrário, sinal de que uma alma tem a têmpera necessária para discernir a vontade de Deus em qualquer situação e agir com angélica sabedoria. Tomada por esse dom do Espírito, a pessoa torna-se capaz de analisar o rumo dos acontecimentos a partir de uma perspectiva transcendente e encontrar a solução acertada para os mais angustiosos problemas concretos, por mais caóticas que sejam as circunstâncias nas quais se encontre.

Tal equilíbrio de espírito, caldo de cultura para todas as virtudes, caracterizou os grandes Santos. São Francisco de Sales, por exemplo, tinha um temperamento difícil, mas passou para a História como o Doutor dulcíssimo e Doutor da piedade e da mansidão. Famoso por sua bondade e paciência, não perdia oportunidade de corrigir quando necessário, mas fazia-o sempre com suavidade. Santa Teresinha do Menino Jesus nunca perdia a paz interior, mesmo em meio a provações interiores ou na presença de desavenças entre as religiosas de seu convento.

E o que dizer da atitude de Jesus mantendo imperturbável calma durante a terrível tempestade que sacudia a barca no Mar da Galileia? Não será este o melhor exemplo da conduta a seguir nas situações aparentemente sem saída?

Roguemos, pois, à Santíssima Virgem, Rainha da criação, a graça de contemplar e amar a Deus em todas as suas facetas, refletidas tanto na tranquilidade de um lago sereno quanto na fúria de um mar tempestuoso.