Eis na manjedoura de uma gruta em Belém, um Deus infinito no corpinho de uma criança. Deus glorioso, tem por berço um cocho onde comem os animais. Deus eterno, nasceu e morrerá na plenitude de Sua idade. Deus onipotente, todo feito debilidade, a ponto de não poder usar com firmeza Suas mãozinhas ou os próprios pés.
Deus que alimenta até as aves dos céus, necessitará da acolhida dos homens até Seu último suspiro; providencia as tocas para as raposas, mas não terá onde repousar a cabeça, e no dia do Juízo ainda dirá: “Tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; estava nu e me vestistes; enfermo e me visitastes…” (Mt 25, 35-36). Deus onisciente submetido à aprendizagem pela experiência humana, inclusive provando sofrimentos inenarráveis, vindo a constituir-se no “homem das dores e experimentado nos sofrimentos” (Is 53, 3). Ali está Deus criador, saído do nada quanto à Sua alma e ao próprio corpo, o Filho de Deus feito filho do homem.
Mas, qual terá sido a causa de ter Ele assumido tão incomensurável humilhação? São João responde: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao extremo” (Jo 13, 1). Sendo Deus, Seu amor por nós é eterno; e prevendo nossa indigência, desde todo o sempre preocupou-se com cada um de nós com esse carinho sempre presente e num invariável e ininterrupto afeto: “… me amou e se entregou a Si mesmo por mim” (Gl 2, 20).
Foi também pelo fato de a humanidade ter se deixado penetrar por esse amor que ela conseguiu sair do vórtice de decadência moral no qual se encontrava, regando com seu próprio sangue as arenas de um Coliseu ou de um Circo Máximo, sangue que fez brotar uma nova civilização florida de catedrais, castelos, heróis, santos doutores e confessores. “Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil”, escreveu o Papa Leão XIII com eloquência (Immortale Dei,1/11/1985). Ou seja, houve uma era histórica que cumpriu este precioso mandamento: “Amemos a Deus, porque Deus nos amou primeiro” (1 Jo 4, 19).
Os acontecimentos atuais nos demonstram o quanto o mundo está atravessado por crises de toda ordem, prestes a sofrer o maior colapso havido até hoje. Como evitar a magna catástrofe que se avizinha com a velocidade e o ímpeto de um furacão?
Aproximemo-nos do Presépio, roguemos a intercessão de Maria Santíssima e de São José e peçamos perdão do tão inveterado orgulho, relativismo, impiedade, egoísmo e sensualidade desta humanidade pecadora e atéia, na qual vivemos.E imploremos ao Menino-Deus que faça retornar aos corações dos homens o verdadeiro amor, pois, “quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é caridade.Nisto se manifestou a caridade de Deus para conosco, em que Deus enviou o seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele tenhamos a vida” (1 Jo 4, 8-9). Só assim obteremos a verdadeira Paz.
(Adaptado do editorial com o mesmo título na revista Arautos do Evangelho, nº 72, dezembro de 2007, p. 5. Para acessar o exemplar do corrente mês clique aqui )
Ilustrações: Arautos do Evangelho, Gustavo Krajl, Wiki
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