Um dos maiores fatores de felicidade é saber-se amado por alguém. Pode ser o amor da mãe, do pai, ou de outra pessoa. Entretanto há um amor do qual muitos se esquecem. E é um amor que supera até o amor de mãe. Esse amor é o amor de Deus por cada um de nós.

Mons João Clá, fundador dos Arautos do Evangelho, trata desse amor, maior que qualquer amor, no texto que transcrevemos a seguir.

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O AMOR INCONDICIONAL DE DEUS A CADA UM DE NÓS

Mons.João Scognamiglio Clá Dias, EP

Por meio da consideração do universo, de modo especial sob o aspecto da beleza, pode o homem a todo momento reportar-se a Deus, vendo nas criaturas reflexos do Criador.

Entretanto, muitos dos nossos contemporâneos vivem engajados em um ritmo de vida que os absorve por completo, dificultando-lhes tomar distância dos afazeres cotidianos e se deter, mesmo por alguns instantes, para admirar algo de nobre, elevado ou belo capaz de alçá-los à esfera sobrenatural.

Quem assim procede, demonstra ignorar o lado mais profundo da realidade, uma vez que Deus está em toda parte e intimamente em todas as coisas. ⁽¹⁾ “N’Ele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17, 28).

Jesus perdoa a pecadora

Deus quer dar-nos a vida eterna

Deus é sumamente comunicativo e “não cessa de chamar todo homem a procurá-Lo para que viva e encontre a felicidade”. ⁽²⁾ Deseja entrar em contato conosco e tem por nós um amor gratuito, incomensurável e incondicional, que perdoa as infidelidades até o extremo de Nosso Senhor afirmar haver mais alegria no Céu pela conversão de um pecador do que pela perseverança de noventa e nove justos (cf. Lc 15, 7).

“Não quero a morte do pecador, mas que ele se converta e tenha a vida” (Ez 33, 11), diz a Sagrada Escritura. Esse pensamento expresso através da Revelação deve nos encher de confiança, qualquer que seja nossa situação espiritual.

Tanto mais que a vida desejada por Nosso Senhor, para nós, não se esgota nos limites de uma existência terrena cheia dos deleites dos sentidos, o que além de ilusório, quase nada seria face ao que Ele quer nos dar, ou seja, uma participação na própria natureza divina. Deus nos criou para gozarmos de sua plena e perpétua felicidade. Dádiva maior, não é possível excogitar!

Precisamos, sobretudo, não colocar obstáculos à graça

Desde toda a eternidade, Deus tem um plano específico para cada um de nós e o mantém, mesmo se a este não tenhamos correspondido como deveríamos. Em sua misericórdia, Ele vê o que toda pessoa seria se tivesse sido sempre fiel às graças recebidas, vivendo no auge de perfeição para a qual foi criada.

Deus espera que nossa vocação um dia se torne realidade e serve-Se dos acontecimentos cotidianos para nos mover à conversão. Assim, ainda que alguém se encontre num estado de extrema infelicidade por ter cometido uma falta grave — ou, pior ainda, por ter abraçado decididamente as vias do mal — o Divino Juiz não Se apressa em punir o pecador. Ao contrário, aguarda pacientemente o momento adequado para reconduzir o filho pródigo à casa paterna.

Mais ainda, o amor de Deus pelos homens é tão incondicional que, diante do anseio salvífico do Criador, nossa vontade fica relegada a um segundo plano. Bem sintetizou essa realidade Santa Maravilhas de Jesus em seu célebre lema: “Si tú le dejas…” — “Se tu O deixas…”. Pois, para trilharmos as vias da virtude, precisamos, sobretudo,não colocar obstáculos à ação da graça em nossas almas.

A santidade não é principalmente resultado do nosso esforço, mas de uma iniciativa amorosa de Deus.

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⁽¹⁾ Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica I, q.8, a.1, resp.
⁽²⁾ Catecismo da Igreja Católica, n.30.

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(in “O inédito do Evangelho”, Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, Libreria Editrice Vaticana, 2012, Vol. V, pp. 209-210)