Nove meses exatos antes do Natal, comemora-se a Anunciação do anjo e a Encanação de Jesus no seio puríssimo e virginal de Maria. Esse é um momento ápice da História: o momento em que Deus se faz homem para nos redimir. É uma época a se encerrar — o Antigo Testamento — e um novo a começar — o Novo Testamento. Esse fato de tal modo marcou os acontecimentos, que até hoje, num mundo paganizado, a História se divide em “antes de Cristo” e “depois de Cristo”.

Nesse momento ápice, o que fazia Maria Santíssima quando o anjo lhe apareceu?

Para responder a esta pergunta recorremos à obra de Mons. João Clá Dias, “O inédito sobre os Evangelhos”, publicado pela #Libreria Editrice Vaticana em 2013 (1).

NO MOMENTO DA ANUNCIAÇÃO, O QUE FAZIA NOSSA SENHORA?

Mons João Scognamiglio Clá Dias, EP

O que fazia Maria Santíssima quando o anjo chegou junto a Ela? Sem dúvida, rezava, talvez considerando a desastrosa situação na qual se encontrava a humanidade. O povo judeu havia se desviado da prática da verdadeira religião e os pagãos, a começar pelos romanos, viviam numa tremenda decadência moral. Chegara-se ao que São Paulo chama “plenitude dos tempos” (Ef 1, 10).

É assim, com Maria Santíssima orando ao Pai recolhida no seu aposento, que São Bernardo descreve a cena da Anunciação, pondo em realce a importância da oração para Deus manifestar-Se. Pois uma coisa é evidente: as preces d’Ela comoveram os Céus: “A saudação do anjo, feita com tanta reverência, indica quanto as orações de Maria haviam agradado ao Altíssimo” (2) — afirma o Doutor Melífluo.

Numa de suas meditações sobre a vida de Cristo, São Boaventura nos apresenta a jovem Maria levantando-Se à meia noite no Templo para fazer sete súplicas diante do Altar e rezando desta forma: “Eu Lhe pedia a graça de presenciar o tempo no qual haveria de nascer aquela Virgem Santíssima que daria à luz o Filho de Deus, de conservar-me os olhos para poder vê-La, a língua para louvá-La, as mãos para servi-La, os pés para ir aonde Ela mandar e os joelhos para adorar o Filho de Deus em seu regaço”(3).

Sua humildade A impedia de concluir quem haveria de ser essa Dama à qual desejava ardentemente servir, mas, possuindo ciência infusa e recebendo graças sobre graças, foi tecendo considerações até conceber em seu espírito, com total nitidez, a figura moral do Messias prometido.

Maria “concebeu Cristo em sua mente antes de concebê-Lo em seu ventre”, afirma Santo Agostinho (4).

Ao ver iluminar-se o aposento por uma luz sobrenatural e aparecer diante d’Ela o Arcanjo São Gabriel, Maria não deu o menor sinal de espanto. Segundo vários autores, entre eles São Pedro Crisólogo e São Boaventura, Ela estava “habituada às aparições angélicas, as quais não podiam deixar
de ser frequentes para Aquela que Deus havia cumulado de tantas graças, que reservava para tão altos destinos, e que os anjos reverenciavam como sua Rainha e a própria Mãe de Deus”(5). Podemos, inclusive, conjecturar que o próprio São Gabriel não Lhe fosse desconhecido.

(1) MONS. JOÃO SCOGNAMIGLIO CLÁ DIAS, EP, “O inédito sobre os Evangelhos”, Libreria Editrice Vaticana, 2013, Vol. VII, pp. 60-61.

(2) SÃO BERNARDO. Obras Completas. Homilías sobre la Virgen Madre 3,1. Madrid: BAC, 1953, t.I, p.207.

(3) SÃO BOAVENTURA. Meditaciones de la vida de Cristo. Buenos Aires: Santa Catalina, 1945, p.7.

(4) SANTO AGOSTINHO. Sermo 215, 4. ML 38, 1074.

(5) JOURDAIN, Zéphyr-Clément. Somme des grandeurs de Marie. 2.ed. Paris: Hyppolite Walzer, 1900, t.II, p.268.