O rapaz estava preocupado. E não era para menos…

Trazia os resultados de uma “bateria” de exames pedidos pelo médico. Pouco adiantaria abri-los pois, eram escritos numa linguagem indecifrável: “tal coisa assim, compatível com tal outra”.

Estava nessas reflexões, quando outro paciente da sala começou a falar-lhe. Tinha ares otimistas e, talvez por percebê-lo preocupado, disse que um seu amigo, com câncer, estava fazendo um tratamento à base de chá. E fora receitado pelo médico em cuja sala de espera estavam.

Ainda não melhorara, é verdade; mas… quem sabe?… — concluiu o otimista.

O rapaz lembrou-se da palavra que ouvira num dos exames – neoplasia. Lembrou-se que havia alguma relação com câncer. E se seu caso fosse… O chá curaria?

* * *

.

Há adeptos do “chá” para resolver o grande problema da vida: escolher o caminho certo para chegar ao lugar certo.

Mais precisamente: fomos criados com determinada finalidade; se a atingirmos, seremos felizes; se não a atingirmos…

Como costumam dizer os santos, ou seja

Aqueles que realizaram os planos de Deus a seu respeito, ou seja, os santos costumam dizer: esta vida terrena é um mero “noviciado para o Céu”. Em linguagem mais atual, estamos num pré-vestibular; depois de prestá-lo — dependendo da nota… — teremos a bem-aventurança eterna. Ou…

A solenidade comemorada hoje pela Igreja tem muita relação com a “nota” que queremos tirar: hoje é o dia do Imaculado Coração de Maria.

Cabe saber se a “terapia” do cházinho é ou não adequada para esse caso.

* * *

Quando se diz “coração”, muita gente limita-se a pensar no aspecto sentimento, num amor meramente sensível, sem maiores profundidades.

Ora, Nossa Senhora é a obra prima de Deus, Aquela escolhida por Ele para ser Mãe de seu Filho. Os santos costumam dizer que Deus colocou neste Coração todos seus tesouros. Daí o Anjo chamá-la de “cheia de graça”.

No Evangelho está dito que Maria, no convívio com seu Divino Filho “guardava todas essas coisas no seu coração”. Nesse relicário Ela guardava as palavras, os gestos e feitos de Jesus.

Ao venerarmos o Imaculado Coração de Maria, honramos seus afetos, virtudes, méritos, fortaleza, santidade, etc. Sobretudo seu ardentíssimo amor a Deus e a seu Filho Jesus. Dados a Ela como filhos — “Eis aí tua Mãe”, disse Jesus no alto da Cruz. Ela nos ama com esse mesmo Coração.
.
.

“Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao Meu Imaculado Coração”

Assim se expressou Nossa Senhora em Fátima.

Não podemos imaginar as palavras de Nossa Senhora como um cházinho, mas sim como um remédio eficaz.

Convém, pois, lembrar um aspecto pouco comentado do Coração de Maria: sua sabedoria. Vários santos referem-se ao Coração de Maria como “Sapiencial e Imaculado Coração de Maria”.

Na sua consagrada obra sobre Fátima (1) diz o Mons. João Clá, Superior Geral dos Arautos do Evangelho:

“Tão excelsa é a sabedoria de Nossa Senhora, que excede a de todos os anjos e homens juntos. Pode-se dizer que o Coração Sapiencial de Maria é aquele que ama tudo de acordo com a fé, a reta razão e o bom senso”

Assim, ao invés de uma devoção superficial, sentimental, sem razões sólidas que a justifiquem nas horas provação, teremos uma autêntica devoção baseada em convicções e não em sentimentos.

.

Anos atrás, tive a oportunidade de ouvir do Doutor Plinio Corrêa de Oliveira, formador do Mons. João Clá, uma figura elucidativa:

“nossa devoção e dedicação devem basear-se em princípios, em convicções. Essas convicções são como a chama da vela: é o brilho do entusiasmo que ilumina e queima, mas, na hora da provação — podemos compará-la à ventania —, a parte dourada e luminosa da vela como que se apaga e só resta, ‘agarrada’ ao pavio, uma chamazinha azul. Essas são as convicções da devoção. Se as tivermos, continuamos fiéis na borrasca, se não, a vela se apaga…”(2)
.
.

.
.

(1) Mons. João S. Clá Dias, Fátima – “O Meu Imaculado Coração triunfará!”, ACNSF, São Paulo, 2005, pp. 121-122.

(2) Lembranças de um convívio, anotações pessoais do autor, 1974