Terça-feira da Semana Santa. O que ocorreu na terça-feira histórica, ante-véspera da Santa Ceia, três dias antes da Crucifixão e morte de Jesus?
Como nos dias precedentes, Jesus, logo cedo, foi ao Templo, em meio à multidão de judeus vindos de todas as partes para celebrar a Páscoa. Ali, mal começara a pregar, surgem os magotes de fariseus e doutores da Lei que começam a fazer-Lhe perguntas capciosas, para tentar pegá-lo em erro ou afronta à Lei. Inutilmente o fizeram, pois Jesus, a cada resposta os deixava desmascarados: “o feitiço virou contra os feticeiros”, dir-se-ia hoje.
Já derrotados na véspera, nesta terça tentaram mais uma vez pegá-lo em erro, para justificar a prisão e morte que pretendiam contra Jesus. Tendo Jesus deixado patente a maldade de seus arguidores, estes retiraram-se para conjurar como O haviam de prender. Com a presença de tal multidão, perecia-lhes arriscado apoderar-se dAquele divino Taumaturgo, de quem todos sabiam “ter passado a vida a fazer o bem”.
Reunidos no Sinédrio, em vão excogitavam planos, logo tidos por impossíveis. Era preciso encontrar um meio.
Ocorreu então um inesperado: apresentou-se um forasteiro, dizendo ter uma proposta vantajosa para o Sinédrio. Era Judas que vinha vender o Divino Mestre… Acertaram as condições e o preço da traição: trinta moedas. Era o preço que valia um escravo. Judas propunha entregar-lhes Jesus durante uma das próximas noites, longe da multidão.
Como chegara o ex-Apóstolo a se tornar traidor?
Seguira Jesus na esperança de um bom cargo no reino terreno — imaginava Judas — do qual Jesus seria o Rei. Essa ambição, toda terrena, fazia com que sua adesão ao Mestre fosse diminuindo na proporção em que Jesus ia deixando claro que “seu Reino não era deste mundo”. Protestara quando o Mestre anunciou a instituição da Eucaristia, poucos dias antes. Quando Maria Madalena ungia os pés de Jesus, protestara pelo “desperdício”, pois o dinheiro “podia ser dado aos pobres”. E Jesus afirmara: “Pobres, vós sempre o tereis. A Mim nem sempre o tereis. O que esta mulher faz, é ungir-Me para a morte”. Ou seja, Jesus aceitou de bom grado a homenagem que lhe fora prestada.
Judas protestara pois, já a tempos cuidava da bolsa com recursos para Jesus e os Apóstolos e dela roubava para proveito próprio. Ao levantar-se contra a devida homenagem ao Mestre, queria que o valor do perfume — trezentas moedas — viesse parar na bolsa. Ou melhor, no seu bolso. Por isso, ávido de dinheiro, não hesitou em vender o Mestre por apenas trinta moedas, um décimo do que Maria Madalena usou para honrar o Senhor.
O resto todos conhecemos: o beijo do traidor para identificar quem os soldados deviam prender; a última tentativa de Jesus em tocar o coração do traidor: “Amigo, — vejamos bem: amigo — com um beijo traís o Filho do Homem?” E depois a figueira, a corda, e o corpo de Judas que se suicidara.
Até lá o levou a ambição: entregar à morte o autor da Vida…
Se Judas ainda tivesse se arrependido, a mãe do mestre estaria ali pronta a dar o perdão.