Por Pe. Francisco Teixeira de Araújo, EP
Pode a esperteza ser considerada uma virtude? Assim como a inteligência e outros dons naturais, ela pode ser utilizada para o bem ou para o mal. É propriamente uma virtude quando exercida desinteressadamente para, por exemplo, ajudar o próximo em necessidades, ou agir com maior eficácia na obra evangelizadora da Igreja, visando a salvação das almas e a glória de Deus.

Dela trata São Tomás como parte integrante da virtude cardeal da prudência, ou seja, da virtude pela qual o homem emprega os meios adequados para conseguir o fim santo que tem em vista. A solércia, ensina o Doutor Angélico, é “a conjectura rápida e fácil a respeito dos meios”. E o padre Royo Marín assim a define: “Sagacidade (chamada também solércia, eustoquia), é a presteza de espírito para resolver por si mesmo os casos urgentes, nos quais não é possível parar para pedir conselho”.

O Divino Mestre nos ordena pô-la em prática. “Sede, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas” (Mt 10, 16). Com estas palavras, Ele nos recomenda: sede inocentes, sim, mas também espertos! Pois inocência sem esperteza pode resultar em tolice.

Entretanto, Cristo nos estimula não só por palavras, mas também pelo exemplo, pois foi Ele divinamente esperto (cf. Lc 20, 1-8.20-26). Mas nosso Redentor foi além ao dizer: “Os filhos deste mundo são mais prudentes em seus negócios do que os filhos da luz” (Lc 16, 8). Esta afirmação soa como uma queixa em nossos dias, nos quais, segundo palavras do saudoso Papa João Paulo II, a humanidade “parece desfalecida e dominada pelo poder do mal”. É como se o Divino Mestre dissesse: – Infelizmente, os inimigos de minha Igreja são mais espertos em seus péssimos desígnios do que os filhos dela na luta pela salvação das almas.

Como pode acontecer isso? A explicação no-la dá o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: “isso ocorre quando os bons amam pouco a Luz, Nosso Senhor Jesus Cristo; se os filhos da luz amarem a Santa Igreja mais do que os filhos do mundo amam seus interesses pessoais, serão mais espertos do que estes”.