Em pleno coração da Espanha, no extremo oeste da cidade de Segóvia, se eleva com régio esplendor o multissecular Alcácer. Encravado numa afilada rocha entalhada pelos rios Clamores e Eresma, desafiando os ventos e os séculos, domina a paisagem circundante com sua altaneira silhueta.
Gustavo Adolfo Krajl
O nome denota sua antiga origem, pois a palavra alcácer provém do vocábulo árabe al qasr que significa castelo. Ele já existia, com efeito, antes da cidade ter sido reconquistada por Alfonso VI, e serviu de morada para o seu bisneto Alfonso VIII, o vencedor da batalha das Navas de Tolosa. Foi restaurado e ampliado por diversos reis de Castela, entre os quais Alfonso X o Sábio e João II, este último responsável pela construção da imponente torre de menagem que domina o edifício.
No século XV, o Alcácer desempenhou papel preponderante na ascensão ao trono de Isabel a Católica como rainha de Castela e Leão. Aí ela se casou com Fernando II de Aragão e, quase um século mais tarde, o prédio foi cenário das bodas de Ana d’Áustria e Felipe II, rei ao qual devemos a configuração arquitetônica definitiva, que hoje contemplamos.
Reflexo da eternidade e fruto dos séculos, sua característica silhueta de navio parece desafiar com a sua altiva proa ventos e tempestades. Aliando força e elegância, ele evoca os predicados das almas verdadeiramente católicas: estabilidade, beleza, solidez, intrepidez e vistas postas na eternidade.
O Alcácer de Segóvia representa, sem dúvida, um exemplo prototípico das belezas criadas pela união entre a arte e a natureza. Se as suas bases estão bem fincadas na pedra, as esguias torres apontam para o alto. Dir-se-ia obra de um Anjo descido do Céu que tocou na montanha, transformando as rochas brutas nesta obra-prima modelada pelo homem através dos séculos.
Pensamentos como estes povoavam a mente do fotógrafo enquanto ascendia até o Mirante dos Dois Vales, numa luminosa tarde de abril. Após alguns dias de tormentas e clima instável, o céu segoviano mostrava-se dominado por extensos conjuntos de nuvens, que desfilavam com passos majestosos de etérea grandeza. Foi nessas circunstâncias que nasceu a imagem aqui apresentada, e que temos a alegria de partilhar com os nossos leitores.
(Com pequenas adaptações no texto aqui publicado, este artigo foi estampado originalmente na revista “Arautos do Evangelho”, nº 133, de janeiro de 2013, p. 50-51. É do seu autor, Gustavo Krajl, a fotografia maior que ilustra o post. Para acessar o exemplar da revista do corrente mês clique aqui )
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