Deus, em sua infinita bondade, nos cumulou de inúmeros tesouros: a terra onde habitamos, o dom da vida, uma alma imortal… Uma vez criados, Ele não nos abandonou à nossa própria sorte, mas guiou nossos passos por meio dos Santos, dos profetas, de sábios ensinamentos. E, acima de tudo, chegada a plenitude dos tempos, enviou-nos seu Filho “a fim de remir os que estavam sob a lei, para que recebêssemos a sua adoção” (Gal 4, 5).

Tudo isso Ele nos concedeu. Contudo, carregamos estes tesouros em vasos de barro (cf. II Cor 4, 7). O pecado original fez de nós seres débeis, com frequência indecisos e muitas vezes infiéis. E em nós, as maravilhas operadas pela graça estão constantemente ameaçadas de escorrer pelas rachaduras apresentadas por esses vasos de argila…

Compadecendo-Se de nossa fraqueza, e quando parecia já nos ter dado tudo, Nosso Senhor Jesus Cristo deu-nos ainda mais. A fim de não cessar sua presença entre nós, deixou-nos, antes de partir para a eternidade, a Igreja investida de imortalidade, infalibilidade e onipotência.

Ora, Ele também quis — por divina disposição de sua vontade — que todos os carismas e poderes a Ela concedidos fossem depositados nas mãos de uma pessoa única na Terra: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus” (Mt 16, 19)!

“Constituído a favor dos homens como mediador nas coisas que dizem respeito a Deus” (Hb 5, 1), o Pontífice elevado ao Sólio Petrino é, pois, chamado a um auge de união com o Criador. Dele se exige uma santidade que trasborde e se transmita aos outros, mas ele continua sempre “cercado de fraqueza”(Hb 5, 2), em razão de sua natureza atingida pelo pecado original.

O Papa, Doce Cristo na Terra, é, portanto, também um vaso, já não constituído de barro ordinário, mas de finíssimo cristal. Não por isso menos quebradiço. Sua fraqueza está na própria natureza humana; sua força, na integridade de sua união com Deus. União que precisa ser completa, íntima e sobrenatural, sob pena de merecer a mesma repreensão feita a Pedro por Nosso Senhor: “Afasta-te, Satanás! Tu és para Mim um escândalo; teus pensamentos não são de Deus, mas dos homens!” (Mt 16, 23).

Por mais assombroso que possa parecer, no Papado se encontra todo o poder da Divindade, em virtude da força da palavra do próprio Cristo: “tudo oque ligares… tudo o que desligares…” (Mt 16, 19). O poder de Pedro está fundamentado na fé (cf. Mt 16, 17) e nada é sem ela. Mas, pelo íntimo e singular vínculo desse homem com Cristo, multiplica-se de forma inexcogitável o imenso poder que, de por si, ela tem para mover montanhas (cf. Mt 17, 20) ou deslocar amoreiras até o mar (cf. Lc 17, 6).

O poder do Ministério petrino nunca foi exercido em toda a sua plenitude ao longo dos vinte séculos da História da Igreja. Entretanto, ele reluz, mais que o Sol, de dentro das frágeis paredes de um finíssimo cristal… “para que transpareça claramente que este poder extraordinário provém de Deus e não de nós” (II Cor 4, 7)!

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(Transcrito da revista “Arautos do Evangelho”, nº 152, de agosto de 2014, p.5. Para acessar ou fazer douwload da revista completa Clique aqui)

Ilustrações: Arautos do Evangelho, Rh-67, Nheyob