Lendo as memórias de um famoso general francês de séculos atrás, deparei-me com essa curiosa afirmação: “Quando criança eu brincava de soldado em cavalos de pau sentia-me mais dentro do heroísmo do que hoje montando cavalos de verdade e comandando exércitos”.

À primeira vista dir-se-ia que o contrário seria verdade. Entretanto os melhores estudiosos da psicologia infantil afirmam isso.

Parece muito a propósito transcrever aqui o que diz o Mons. João Clá Dias, fundador e Superior dos Arautos do Evangelho na introdução dos comentários ao Evangelho da Epifania do Senhor.

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A INOCÊNCIA DIANTE DO MARAVILHOSO

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

No trato com crianças não é difícil constatar o seu senso do maravilhoso. Quando o inocente está em formação e despontam os primeiros lampejos do uso da razão, ele se encanta com tudo quanto vê, acrescentando à realidade algo que ela, de si, não tem.

Ou seja, imagina aspectos magníficos e grandiosos por detrás de aparências simples. É isso que constitui a alegria da vida infantil.

É indispensável alimentar a fé com as belezas da criação

Infelizmente, nos tempos hodiernos, que acumulam sobre si o fruto de vários séculos de decadência moral, procura-se arrancar às crianças, o mais cedo possível, o maravilhoso. E com esta perda vai-se embora também a inocência.

Aos poucos os jovens são introduzidos num ambiente onde o hábito de admirar já não existe. Nas escolas e universidades, em geral, o que interessa é o concreto, o exato, a ciência, o número, a prova, o testemunho.

Às vezes ― o que é pior ― até nos cursos de Religião se nota o empenho dos professores em dizer que nas Sagradas Escrituras muitos episódios não passam de
lenda e fantasia, e não aconteceram como estão narrados. Tudo para dissuadir o aluno da ideia do milagre, da intervenção de Deus, do sobrenatural e da relação que há entre o homem, a ordem do universo e Deus.

Tal sede de maravilhoso, tão viva no mundo dos inocentes, deveria permanecer no horizonte dos adultos e, inclusive, crescer. É preciso continuar crendo na maravilha e alimentar a fé com a contemplação das belezas criadas por Deus, pois até um colibri tentando tirar o seu alimento de uma flor, com elegância e agilidade, nos remete a Deus, a seu poder e formosura.

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(Extraído do artigo “O Espírito Santo e nossos maravilhamentos?”, na revista Arautos do Evangelho, nº 145, de janeiro de 2014, pp. 10-16.)