A Igreja celebra a Solenidade de Cristo Rei neste domingo, o último do ano litúrgico. Algumas considerações podem nos ajudar a compreender o alcance desta comemoração, pois, Jesus sendo Deus, é Rei por natureza.

Os hebreus viviam sob a proteção do Senhor e eram por Ele orientados através de seus profetas. Era a única nação a gozar de um regime teocrático.

Debaixo dessa forma de governo, haviam abandonado a escravidão egípcia, caminhado pelo deserto entre milagres durante quarenta anos e vieram, por fim, estabelecer- se na terra prometida.

Apesar de não haverem cumprido suas promessas, as intervenções de Deus, libertando-os de sucessivos opressores, marcaram-lhes a história, consagrando-os como o povo eleito.

Cristo Rei – Valladolid – Espanha

Entretanto, tanta proteção não foi suficiente para fazê-los crer no poder e no amor de Deus, nem para evitar que eles desejassem ser como os demais povos: “Dá-nos um rei que nos governe, como o têm todas as outras nações” (I Sm 8, 5).

O mimetismo pode gerar bons frutos, quando movido por amor de Deus; mas, se tem suas raízes na comparação, inveja ou insegurança por falta de fé, como aconteceu com o povo hebreu, as consequências são desastrosas.

A primeira delas é dar as costas ao próprio Deus: “Não é a ti que eles rejeitam, mas a Mim, pois já não querem que Eu reine sobre eles” (I Sm 8, 7). E apesar de ter ouvido dos lábios do profeta o elenco das inferioridades do regime monárquico em relação ao teocrático, “o povo recusou ouvir a voz de Samuel. Não, disseram eles; é preciso que tenhamos um rei! Queremos ser como todas as outras nações!” (I Sm 8, 19-20).

Coroação de Nossa Senhora
Jesus é Rei, Maria é Rainha

É insondável a misericórdia divina. Correram os séculos e Deus atendeu prodigamente os anseios do povo eleito: deu não só a eles, mas a toda a humanidade, não um grande rei, mas o “Rei dos reis, Senhor dos senhores” (I Tm 6, 15). Concentrou num mesmo Homem a realeza, a “messianidade”, o profetismo e o sacerdócio, oferecendo-lhes um Reino eterno e infinitamente superior a qualquer outro deste mundo.

Nova rejeição: matam-No! Porém, dentre os mortos Ele ressuscita e oferece-nos a Ressurreição também a nós.

A maldade humana é insondável: vemos em praticamente todas as nações de hoje a rejeição de Cristo Rei para agarrar-se aos prazeres perecíveis e fugazes, num mundo decrépito, falido, inautêntico e caótico.

Nas sua solenidade, Cristo Rei possa ouvir nosso brado: “Jesus, Filho de Davi, tende piedade de nós”. E assim, atendendo-nos, traga-nos a verdadeira paz da qual tanto necessitamos.

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Adaptação do artigo “Rei dos reis”, Revista Arautos do Evangelho, nº 35, novembro de 2004.