“Por que Deus permitiu me acontecer tal doença”

É frequente ouvirmos a exclamação acima, dita em geral por pessoas esquecidas de suas convicções religiosas. Não se lembram que Deus é Pai, e Pai extremamente amoroso; se permitiu algo, é por razões nem sempre alcançáveis por nossa limitada natureza.

Cada vez menos ouvimos alguém dizer algo semelhante ao pronunciado por um grande amigo de Deus: Jó.

Homem riquíssimo, saudável, vê de repente toda a fortuna perdida, a saúde periclitante e abandonado pelos amigos.

Nessa circunstância o que disse Jó?

“Deus me deu, Deus me tirou. Bendito seja o nome do Senhor”.

Resignado no infortúnio, tinha certeza que Deus permitiu, por uma razão mais alta. Como prêmio pela fidelidade e confiança, Deus lhe restituiu a saúde, e os bens em dobro.

Comentários ao Pequeno Ofício
da Imaculada Conceição – Volume I
Mons. João Clá Dias, EP

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A Providência divina tem hábitos, se assim se pode dizer. Faz parte desses hábitos o proceder como o fez com Jó.

Outro hábito divino para com os fundadores fazê-los modelo para seus discípulos. Um fato ocorrido com nosso fundador, Mons. João Clá, ilustra bem esse proceder da Providência divina. Além das palavras em homilias, palestras, aulas, os Arautos do Evangelho — e o público — contam agora com as obras escritas do monsenhor, várias delas publicadas pela Livraria Editora Vaticana.

Anos atrás, apesar de sua robusta saúde, foi acometido de uma enfermidade tornada grave em pouco tempo, a ponto de se recear pela sua vida. De nada se queixava, mas, vendo a situação agravar-se fez uma promessa a Nossa Senhora: escreveria comentários ao Pequeno Ofício da Imaculada Conceição.

Mons. João Clá Dias, EP
Em Roma, ao receber o título de
Protonotário Apostólico

Curado de modo prodigioso, apressou-se em cumprir a promessa. É desses comentários que transcrevemos o trecho abaixo.

Maria é digna de todo louvor

Mons. João Scognamiglio Clá Dias

Ao recitar o Pequeno Ofício, associamo-nos às homenagens que todos os séculos e todas as gerações têm prestado à Virgem Santíssima, desde os retumbantes entusiasmos do Concílio de Éfeso que A proclamou Mãe de Deus, até nossos dias, passando pelas aclamações universais que responderam à voz de Pio IX quando decretou sua Imaculada Conceição.

“Maria — escreve um douto e pio autor —, é digna de toda honra, de todo respeito e de todo culto. Ao mesmo tempo, é digna de todo louvor, de todo elogio e de toda glorificação.

“Não é bastante a voz dos Santos da Terra e do Céu, unida à dos Anjos, para celebrar suas grandezas, seu poder e suas misericórdias. […] A Virgem Maria é digna de todo louvor, porque Ela concebeu o Cristo, Filho de Deus, trouxe-O em seu seio e O deu ao mundo.

“Eu sou a Imaculada Conceição”
palavras de Nossa Senhora em Lourdes

Maria é digna de todo louvor, porque teve em suas mãos o Verbo Encarnado, porque Ela O viu com os seus olhos, porque Ela Lhe falou e com Ele privou familiarmente; acalentou-O em seu regaço, nutriu-O de seu leite, e, enfim, cobriu de suas suaves carícias maternas a carne do Filho de Deus.

Não houve jamais época, nem nação, nem estado, nem ordem que tenha omitido ou suprimido os louvores desta augusta Virgem.

Ela foi louvada por Deus que, desde toda a eternidade, A escolheu por Mãe e A predestinou como primeira de todas as meras criaturas; […] foi louvada pelos Anjos, que cantaram em seu nascimento: «Quem é esta que avança brilhante como a aurora quando se ergue, bela como a lua e eleita como o sol?» (Cânt. VI, 9).

Maria Santíssima foi, também, cumulada de louvores pelos homens. Desde os primeiros tempos da Igreja, eles sempre honraram a Virgem, admiraram sua dignidade, sua majestade, sua graça, e A proclamaram bem-aventurada” . ⁽¹⁾

É a este santo e filial dever que nos consagramos, bendizendo a Santíssima Virgem na recitação das Horas deste saltério mariano.

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⁽¹⁾JOURDAIN, Z.-C. Somme des Grandeurs de Marie. Paris: Hippolyte Walzer, 1900. Vol. III., p. 140; 142-43; 145-46.