“O filho pródigo”, vitral da Catedral de São João Batista, Charleston (Estados Unidos)
Foto:Gregory B. Wilson

Em inúmeras circunstancias da vida vemo-nos na alternativa: usar da estrita justiça ou de benevolente misericórdia.

Para cada uma delas ocorrem sérios argumentos, ora impor a justiça, a punição; ora o desejo de perdoar usando de misericórdia.

Onde está o equilíbrio?

O Mons. João Clá Dias, EP, Fundador e Superior dos Arautos do Evangelho elucida bem a questão.

Uma concepção errada da justiça e da misericórdia

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

Os homens costumam julgar as atitudes alheias, em geral, com o seguinte critério: Agiu bem? Merece prêmio e estima. Agiu mal? Merece castigo e repulsa.

Tal mentalidade, cria condições favoráveis a toda sorte de vícios: a vingança, o ressentimento, o rancor etc.

No relacionamento com Deus muitos se baseiam na mesma concepção e O imaginam como um intransigente legislador, a quem a menor infração encoleriza e faz desfechar o merecido castigo.

De acordo com esse critério, a benevolência divina sob forma de bênçãos, consolações e demais favores sobrenaturais, apenas incide sobre aqueles que cumprem os Mandamentos e merecem ser recompensados.

Essa visão é muito deformada, pois atribui a Deus uma justiça conforme os limitados critérios humanos e ignora sua misericórdia. Esta, porém, é n’Ele tão vigorosa que chega a vencer a própria justiça.

A Encarnação, prova da compaixão de Deus

Uma prova insuperável de sua compaixão está nas palavras dirigidas aos nossos primeiros pais, logo após o pecado original: antes de sentenciar os sofrimentos aos quais a natureza humana estaria sujeita na terra de exílio, Ele lhes prometeu a vinda de um Salvador, nascido da descendência de Adão (cf. Gn 3, 15).

Mal o homem havia pecado, o Senhor garantiu-lhe o perdão.

Por isso, poderíamos parafrasear a afirmação de São João e dizer que, no “fiat!” de Maria Santíssima, o perdão de Deus se fez carne e habitou entre nós (cf. Jo 1, 14).

Durante sua vida, Jesus manifestou com largueza o desejo de salvar, acolhendo com indulgência os pecadores arrependidos, confiantes de nEle encontrar o perdão.

Entretanto, a mesma misericórdia que tanto atraía uns, despertava acirrada indignação em outros…

Por que o ódio dos fariseus?

Basta considerar que os fariseus e mestres da Lei encarnam a mentalidade deformada à qual nos referimos. Para eles “Deus é, sobretudo, Lei; julgam-se em relação jurídica com Deus e, sob este aspecto, quites com Ele”,(1) comenta o Papa Bento XVI.

Avaliavam os outros segundo o mesmo critério , discriminando como #pecadores# todos os judeus negligentes no cumprimento das prescrições legais elaboradas por eles próprios.

Jesus veio trazer a misericórdia

Nada poderia contundir de modo tão veemente essa mentalidade quanto o modo de Nosso Senhor proceder.

Jesus perdoa a pecadora

A cura do servo do centurião romano (cf. Lc 7, 1-10; Mt 8, 5-13), a pecadora perdoada na casa de Simão, o fariseu (cf. Lc 7, 36-50), e a incorporação de um coletor de impostos ao Colégio Apostólico, com o chamamento de Levi (cf. Mt 9, 9-17; Mc 2, 13-22; Lc 5, 27-39), são alguns exemplos de atitudes escandalizantes para os fariseus. A seus ouvidos soavam como blasfêmias as palavras: “Não vim chamar os justos, mas sim os pecadores” (Lc 5, 32).

Por esta razão, a todo momento procuravam mostrar sua ferrenha oposição a Jesus

No entanto, como Jesus desejava salvar a todos — inclusive os fariseus e mestres da Lei —, sua resposta a tais objeções foi uma tríade de parábolas, registradas por São Lucas à maneira de um mesmo argumento apresentado sucessivamente, sob diferentes invólucros: a ovelha tresmalhada, a moeda perdida e o filho pródigo.

Em cada uma delas, Nosso Senhor visava não só incentivar os pecadores a confiarem no perdão, como também convencer os opositores acerca da necessidade da misericórdia, sem a qual ninguém pode se salvar.

[Ver íntegra do artigo do Mons. João S. Clá Dias na Revista Arautos do Evangelho, de setembro de 2013, pp. 10-19]