Foi na terça-feira passada. Num final de tarde como muitos, eu observava o “rush” costumeiro: muitos deixavam o serviço, outros saíam às pressas para pegar o filho na escola, grupos de adolescentes gracejavam ou faziam algazarra, etc. Nenhum deles prestava atenção a um espetáculo que se desenrolava acima de suas cabeças.

Um lindo pôr do sol parecia banhar de ouro as nuvens, as elevações próximas, as copas das árvores, numa suave mudança de cores, cada uma mais linda que a outra.

Este espetáculo gratuito do sol chegava a fazer reluzir o rosto das pessoas, mas ninguém se dava conta. Estavam preocupados com o que fariam no próximo minuto, remoendo as preocupações ou, talvez, frustrações do dia.

Bastaria pararem um instante, contemplarem aquele entardecer ao mesmo tempo plácido e esplendoroso; certamente muito do peso e do estresse se desfaria. Por que isso ocorria só a poucos que fitavam o espetáculo tão simples, mas tão distensivo?

Por que não parar um instante e agradecer ao Criador este pôr do sol tão distensivo como um bálsamo? Por que não aproveitar este momento para distender-nos, lembrarmos com gratidão de um dia a mais que Deus nos deu e que termina de modo tão belo?

No lufa-lufa de hoje em dia, acabamos nos tornando escravos do transitório; às vezes do inútil. E esquecemos o essencial: fomos feitos para outra vida. Esta outra, sim, eterna.

Talvez por isso, poucos contemplam o gracioso de uma flor, o sorriso de uma criança ainda embalada por seu sonho infantil ou o esplendor e placidez de um por do sol. Esquecemos que essas perfeições criadas nos falam de Deus Criador.

Ele que é Pai, quer para seus filhos momentos destes. Como o dia a dia tornar-se-ia mais ameno se puséssemos atenção em coisas dessas…

E assim pensaríamos na verdadeira vida para a qual fomos feitos. Parar, contemplar e admirar o que nesta vida passageira nos fala da eterna, não a tornaria muito mais suportável, agradável mesmo?

Jesus, misericordiosamente, ensinou-nos: “Onde estiver o teu tesouro, aí estará teu coração” (Mt. 6,21). Perguntemos sinceramente a nós mesmos: onde está o nosso coração? Do que fazemos o nosso tesouro?

Aí, nossa vida não somente será menos pesada, mas sim o inicio da felicidade eterna. Teremos a paz de alma, a confiança, o ânimo que tantos buscam… muitas vezes em “tranquilizantes” e congêneres.

Como diz bem um santo: “Em meio ao grande naufrágio deste mundo, uma benfazeja mão nos lança uma corda de esperança, que nos tira do mar das misérias e, para os que nela se agarrem, vai levando até a felicidade eterna”. (1)

(1) São João Crisóstomo, citado na conhecida “Imitação de Cristo”, livro 3, capítulo 49.