Alguns anos atrás presenciei a cena de um jovem — juveníssimo — aspirante a Arauto do Evangelho, pedindo ao Mons. João Clá uma sugestão para o cartão que enviaria por ocasião do Dia das Mães.

Percebia-se que o jovem queria expressar todo afeto que tinha pela mãe, mas que este afeto era tão grande que ele não encontrava as palavras adequadas para exprimi-lo.

O Mons. João Clá, sempre solícito e afável, ouviu o jovem e passou a ditar.
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“Querida Mamãe,

ser Mãe é algo tão alto e digno de amor que até Deus quis ter uma…”
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Estava neste ponto quando chamaram-me para uma providência urgente e inadiável referente à função que exercia. Pesaroso por ter perdido o restante do ditado, fui onde o dever me chamava, mas — se assim posso exprimir — deixando os ouvidos do coração a escutarem o restante da mensagem tão lindamente começada.

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As palavras do Monsenhor João continuavam a ecoar na alma e pus-me a pensar sobre as mães.

Mãe… uma palavra tão pequena, mas que significado profundo!

Símbolo, sobretudo, do mais entranhado e desinteressado amor. Para efeitos de amor, o coração materno não faz distinção entre o bom e o mau filho. Ele é carne de sua carne, sangue de seu sangue, fruto de suas entranhas, por isto ela o ama imensamente, sem esperar qualquer tipo de retribuição.

Seu amor paira sobre o filho desde o berço até a sepultura, quer ele atinja o píncaro do sucesso, quer seja um medíocre ou um fracassado na vida. Se ele subir o caminho da santidade ou, pelo contrário, deixar-se rolar pelas sendas da degradação moral ou mesmo do crime, ela o amará sempre.

E se alguém lhe perguntar o porquê desse amor, ela certamente responderá surpresa: “Ora! É meu filho!…”

Assim, nenhuma recordação marca tão profundamente uma pessoa como a dos momentos felizes da primeira infância, envolvida pelo afeto, carinho e proteção de sua mãe.

E as obras literárias de todos os tempos põem isso em relevo. Em prosa e verso, cantam os literatos a doçura, o carinho, a dadivosidade materna. Apresentam-na como o mais precioso dom concedido por Deus a cada um de nós. Muitas vezes, descrevem o pranto amargo daqueles que não souberam dar à própria mãe o devido valor enquanto a tinham viva junto a si. E as saudades de quantos, após sua morte, desejariam revê-la uma vez mais, receber dela pelo menos um olhar, um sorriso… Tarde demais!

Tarde demais mesmo? Não inteiramente.

A qualquer momento, podemos depositar aos pés da Virgem Santíssima, a Mãe das mães, nossos sentimentos de afeto e de gratidão: eles chegarão com segurança à amada destinatária.

Para todos os que têm ainda a felicidade de contemplar o semblante materno, este mês é a época adequada para reparar pelas eventuais atitudes de ingratidão, de distanciamento, de desamor.

Creio vir a propósito um poema de Casimiro de Abreu.

Na esperança de que lhe será benéfico, transcrevo-o abaixo, fazendo-lhe uma sugestão, caro internauta: reze também por sua mãe e, se você tem ainda a alegria de vê-la e de conviver com ela, aproveite a ocasião para lhe manifestar todo o seu carinho e gratidão filial.

Santo Agostiho e sua mãe, Santa Mônica

Da pátria formosa, distante e saudoso,
Chorando e gemendo meus cantos de dor,
Eu guardo na alma a imagem querida,
Do mais santo, mais puro amor:
Minha mãe!

No berço, pendente dos ramos floridos,
Em que eu pequenino feliz dormitava,
Quem é que esse berço com todo o cuidado
Cantando cantigas alegre embalava?
Minha mãe!

De noite, alta noite, quando eu já dormia,
Sonhando esses sonhos dos anjos dos céus,
Quem é que meus lábios dormentes roçava,
Qual anjo da guarda, qual sopro de Deus?
Minha mãe!

Missa do Dia das Mães