O início do segundo milênio foi marcado por várias batalhas que cruzariam os séculos com suas histórias de honra, nobreza, sofrimento e glórias. Entre essas histórias está a de um guerreiro destemido chamado Godofredo de Tours.

Durante as duras batalhas dos cruzados, o mais corajoso de todos era Godofredo. Sem titubear, lançava-se em meio às florestas de lanças, flechas e espadas. Não havia inimigo que não tremesse com sua chegada, tal era sua fama entre todos os exércitos.

Certo dia, Godofredo e seus cavaleiros cavalgavam numa clareira, quando de repente ouviram rugidos de leão. Tomados de pavor, fugiram todos com medo de virarem presas desta fera. O único que permaneceu impassível foi Godofredo.

Como sua montaria não obedecia as ordens de seguir em direção ao rugido, desceu do cavalo e, sacando a espada, embrenhou-se na mata disposto a enfrentar a fera.

Ao deparar-se com o leão, surpreendeu-se, pois o rugido não era de ameaça e sim de muita dor. Uma traiçoeira serpente havia habilmente se enroscado no leão enquanto este dormia, e a fera não podia esboçar nenhuma reação. Seria muito humilhante morrer dessa forma!

Com muita cautela, Godofredo aproximou-se do leão, e cortou a cabeça da serpente. Ao ver o leão livrar-se da serpente, o guerreiro se preparou para um novo combate contra o temível leão. Qual não foi sua surpresa quando viu o leão ao invés de atacá-lo, deitar-se aos seus pés. Parecia considerar-se um vassalo do nobre cavaleiro que lhe havia devolvido a vida. Deste dia em diante nunca mais deixou de segui-lo.

De volta ao acampamento, todos se surpreenderam ao ver que o leão o seguia como um servo segue ao seu senhor. Apesar do grande medo que a todos atormentava, logo perceberam ser o leão o melhor servo de seu amo. Não lhe servia somente nos dias de paz, mas também nas batalhas, lançando-se contra os inimigos, causando um estrago sem igual ou fazendo-os fugir.

No término das conquistas dos Santos Lugares, voltaram os cavaleiros felizes por terem cumprido sua missão e poderem retornar aos lares.

Ao embarcar para a viagem de volta, Godofredo foi seguido pelo leão, mas o capitão do navio não permitiu a entrada da fera. Todos os pedidos foram inúteis, e por fim o cavaleiro teve que deixar na Terra Santa o seu fiel companheiro.

Vendo o navio afastar-se, soltando rugidos, atirou-se o leão ao mar. Nadou, nadou até suas forças se esgotarem e pereceu afogado. Banhado em lágrimas, Godofredo prestava uma sentida homenagem à fera de coração de ouro.